Uma família marcada pela ausência

Após um dia de chuva na cidade do Rio de Janeiro, a assistente social, Jurema Teodoro da Silva, do Núcleo SOS de Apoio às Famílias caminha com dificuldade pelas vielas da comunidade Teixeiras, na região de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. O caminho, morro acima, é um desafio, especialmente quando está molhado, pois fica difícil firmar o pé no barro. Mas isso não a impede de chegar até construção simples onde mora Andrea dos Santos (44).


Ao se aproximar, o cheiro de alho frito extravasava o pequeno cômodo, que divide as funções de sala e cozinha. Naquele dia, Andrea tinha apenas um pouco de macarrão e, ainda assim, educadamente, convidou Jurema para almoçar com ela. A simpatia e a receptividade com a assistente social são frutos do respeito e do reconhecimento conquistado pela Aldeias Infantis SOS, que promove atendimento na comunidade há alguns meses. 


Infelizmente, a pandemia de Covid-19 impactou a vida da população como um todo. Instabilidade econômica, desemprego, inflação e alta nas tarifas de serviços essenciais, como gás de cozinha e luz, provocam maiores efeitos nas famílias humildes e de baixa renda. 


Com dificuldade em encontrar uma oportunidade de trabalho há quase dois anos, Andrea dos Santos busca alternativas para driblar a ausência de recursos para sustentar os filhos. São nove no total, mas apenas Kassio (12) e Hellyse (3) vivem com ela atualmente numa pequena casa, muito simples, na encosta do morro.  


Não bastasse essas dificuldades, Andrea convive com a dor da ausência de uma das filhas, Ayssa (16), desaparecida há alguns meses. “Não houve brigas, desentendimentos, nada. Saiu um dia para o colégio e não voltou mais”, lamenta aos prantos, enquanto mostrava os cartazes com a foto da filha, que imprimiu no Núcleo SOS de Apoio às Famílias.   


Mesmo morando numa construção simples, o desaparecimento da menina expõe um risco que aumenta quando crianças e adolescentes ficam em situação de rua, onde estão sujeitos a diferentes tipos de violência. Para evitar esse cenário, a Aldeias Infantis SOS atua diretamente no apoio a mulheres como Andrea por todo o país.  


Fortalecer a família contribui diretamente para a amenizar os desafios de quem está sob o risco da vulnerabilidade social, permitindo que pais e responsáveis enxerguem um caminho, que será construído com muito esforço para garantir que os filhos estejam sempre protegidos e desfrutem do convívio familiar. 


No caso de Andrea, a Aldeias Infantis SOS interviu para que as crianças fossem matriculadas na rede pública de ensino. Além disso, Kassio que vinha apresentando um baixo aproveitamento escolar e diversos conflitos na comunidade, foi matriculado no contra turno escolar em uma rede parceira da Organização.   


Andrea recebeu também suporte para garantir acesso ao programa de transferência de renda do Governo Federal, ao obter a segunda via de todos os seus documentos. Para reduzir o risco de insegurança alimentar, a Aldeias Infantis SOS promove a doação de alimentos não-perecíveis e, quando possível, entrega roupas recebidas como doação.

A Aldeias Infantis SOS Brasil lidera o maior movimento de cuidado infantil no mundo para que nenhuma criança cresça sozinha. Como organização global, cuidamos de crianças, fortalecemos famílias vulneráveis, apoiamos situações de emergência e advogamos pelo direito de viver em família em 137 países